Artigo publicado no Jornal do Centro (20 de dezembro de 2019)
Passada a crise (?...) as pessoas estão a endividar-se mais e os bancos a conceder crédito com mais facilidade. Pelo menos, alguns tipos de crédito. Aparentemente, “na boa”, uns e outros. Na passada segunda-feira uma notícia do jornal digital “Eco” dava conta de um novo máximo histórico na concessão de crédito ao consumo. Até ao final de outubro deste ano tinham sido concedidos cerca de 6,3 mil milhões de euros de crédito ao consumo. No dia seguinte, um amigo mostrou-me uma mensagem de correio eletrónico que o seu banco lhe tinha enviado nesse dia, propondo-lhe um crédito, ou seja, no fundo, incentivando-o a endividar-se. Apesar de o texto da simulação enviada estar redigido como se tivesse sido o cliente a pedir a simulação, a verdade é que a iniciativa foi do banco. Ele não tinha pedido nada. Parece que alguns bancos estão de novo particularmente agressivos na concessão de crédito. Ou melhor: de alguns tipos de crédito. Seria bom que a banca, em geral, fosse igualmente tão “ligeira” a emprestar às empresas, ao investimento. Voltando ao caso do meu amigo, tratava-se de crédito pessoal, uma das categorias do crédito ao consumo. “Para concretizar os seus planos ou realizar os seus sonhos”, dizia a mensagem. Como, além dos juros (já por si, elevados), estes créditos acarretam ainda comissões e impostos, contas feitas, a taxa global a pagar pelo cliente seria de 9%. Isto, numa altura em que os bancos remuneram os depósitos a 0 (zero) por cento. Haverá seguramente quem diga que se trata apenas de uma ação comercial por parte do banco. Pessoalmente, vejo aqui sinais de irresponsabilidade, despudor, eventualmente (até) abuso. E muita memória curta. Esta, de ambos os lados: bancos e consumidores.
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Artigo publicado no Jornal do Centro (15 de fevereiro de 2019)
“Cada vez há mais portugueses com crédito automóvel. Em 2018, registou-se um valor recorde de novos empréstimos para compra de carros, sobretudo usados. Até ao final de novembro, o montante de novo crédito automóvel contratado em Portugal somava 2,8 mil milhões de euros. Nunca os portugueses se endividaram tanto para este fim.” (in Jornal de Notícias, 9-fev-2019) Em 2018 foram efetuados mais de 200 mil novos contratos de crédito automóvel. Em média, foram cerca de oito milhões de euros por dia. É obra. Esta tendência estende-se a outros tipos de crédito, como o crédito para compra de casa. As baixas taxas de juro ajudam a explicá-la. Há cerca de cinco anos que as taxas Euribor são negativas, o que se reflete nas taxas de juro praticadas na maioria das operações. Porém, este cenário não se manterá durante muito tempo. Mais cedo ou mais tarde elas voltarão a subir. E quando isso acontecer, as prestações do crédito vão também subir. Provavelmente, nessa altura muitas famílias passarão por maus bocados. Há tempos, um antigo aluno que trabalhava na banca dizia-me: “Muitas pessoas, ao contratarem um crédito habitação, preocupam-se apenas com quanto ficam a pagar nesse momento. Não querem saber o que pode acontecer mais tarde.”. E a verdade é que, sobretudo em contratos de prazos longos, o valor das prestações irá aumentar, garantidamente, com o passar do tempo. Ainda não há meio século, a preocupação era poupar e deixar algum pé-de-meia aos herdeiros. O consumismo e a facilidade de acesso ao crédito fizeram com que se passasse dessa cultura de poupança para outra, de endividamento. Projetando esta tendência, associada a outra, que parece incontornável, que é a degradação do valor das reformas de muitas pessoas, obriga a pensar como será a sua velhice dentro de duas ou três décadas.
Artigo publicado no Jornal do Centro (11 de maio de 2018)
1. Tenho escrito regularmente sobre a promoção da literacia financeira dos cidadãos. Não apenas da população académica, mas também dos cidadãos em geral. O desconhecimento e a falta de sensibilidade para um conjunto de aspetos, alguns deles muito simples e fáceis de entender, fazem com que muita gente tome decisões erradas e, não raras vezes, com custos elevados. Dois exemplos básicos relacionados com crédito habitação: a maior parte das pessoas não sabe o que significam “prazo de carência” e “diferimento de capital” e muito menos imaginam o impacto que podem ter, por exemplo, em termos de juros suportados. Nesta linha, gostaria de aproveitar este espaço para referir que na próxima quinta-feira, dia 17 de maio, pelas 17:00h, terá lugar no Auditório da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu uma ação de informação sobre “Crédito e Endividamento”. É uma sessão aberta a qualquer pessoa interessada neste assunto, na qual serão oradores o gerente da Agência de Viseu do Banco de Portugal, Gentil Amado, e Gonçalo Peixoto, técnico superior da mesma instituição. Trata-se de um tema importante em qualquer circunstância, mas sobretudo numa fase de juros muito baixos, que induzem muitas pessoas a contrair crédito, por vezes por períodos muito longos, sem ponderarem devidamente os efeitos nefastos de uma eventual (eu diria “garantida”) subida dos juros num futuro mais ou menos próximo. 2. Três boas tiradas da escrita inteligente dos telefones inteligentes (smartphones): trocar “vitela estufada” por “vitela estudada”, “computador topo de gama” por “computador tolo de gama” e “bifana” por “cigana”. Ainda bem que são telefones inteligentes. Nem quero imaginar como seria se fossem estúpidos.
Artigo publicado no Jornal do Centro (19 de janeiro de 2018)
Nota prévia: o meu artigo deste mês era sobre a fundamentalista fúria legislativa que por aí vai, nomeadamente no que diz respeito a produtos alimentares e em particular à possível proibição da disponibilização de sal nas mesas dos restaurantes, mas “entusiasmei-me” e quando dei por mim tinha um artigo que me pareceu… inapropriado. Vai um mais insosso, então. 1. O ano de 2018 começa com novas regras no crédito à habitação e outros créditos hipotecários. Uma delas é a substituição da FIN (ficha de informação normalizada) pela FINE (ficha de informação normalizada europeia). É um documento que contém as principais características do crédito, que deve ser disponibilizado ao cliente, quer para uma simples simulação, quer na aprovação de um contrato. É um documento interessante e considero que, em termos gerais, está melhor que o seu antecessor (a FIN). No entanto, é minha convicção que, ainda assim, apenas uma pequeníssima parte dos seus destinatários é capaz de o compreender, de facto. E desses, a maioria não precisa dele, porque detém conhecimentos que o dispensam. Aquela grande massa de destinatários a quem ele poderia ser útil não o percebe. Ou seja, no fundo, acaba por ser um documento inútil para uns e para outros, por razões opostas. E acarreta custos que acabam por ser repercutidos sobre o cliente. Já o manifestei em tempos: verdadeiramente útil seria investir na educação, na promoção da literacia – neste caso, financeira, mas isto é válido para todas as áreas. 2. Há duas coisas que me têm incomodado nos últimos anos: a quase leviandade com que se entoa o hino nacional, por “dá cá aquela palha”, e o facto de aplaudir o que quer que seja sempre que é decretado um minuto de silêncio. Apreciei muito a forma como largas centenas de adeptos do Benfica e do Sporting, maioritariamente jovens, respeitaram a memória das vítimas do incêndio em Vila Nova da Rainha, na véspera: com um minuto de absoluto silêncio. Foi bonito de ouvir, aquele silêncio.
Artigo publicado no Jornal do Centro (25 de novembro de 2016)
(redigido e enviado em 19 de novembro de 2016) 1. A eleição de Donald Trump para a Presidência dos EUA foi surpreendente. Não menos surpreendente tem sido o comportamento dos mercados cambiais e financeiros. Imediatamente após a eleição, o dólar americano caiu (em poucas horas) cerca de 2,5% face ao Euro. Porém, no dia seguinte tinha mais do que recuperado dessa queda. Hoje, passados dez dias, está a valer mais 4% do que valia imediatamente antes e cerca de 6,5% do que valia imediatamente após a eleição. O comportamento foi semelhante relativamente a outras moedas de referência. Também os principais índices bolsistas norte-americanos valorizaram 3% nestes dez dias. Hum… 2. Segundo dados do Banco de Portugal, o crédito ao consumo aumentou mais de 23% em setembro, atingindo os 513 milhões de euros. Foram realizados mais de 120 000 novos contratos, o que representa um acréscimo de mais de 10% em relação ao ano passado. Este aumento do consumo baseado no crédito deveria ser feito com cautela e sentido de responsabilidade. Por parte dos consumidores, mas também – sobretudo - por parte dos bancos. A memória é curta. 3. A novela relacionada com a nova administração da CGD é má demais para se arrastar por tanto tempo. Ninguém fica bem na fotografia: nem o Governo, nem os novos administradores, nem a instituição. Haja bom senso. 4. Pierre Moscovici, vice-presidente da Comissão Europeia: “A crise está a acabar em Portugal”. “A” ou “esta”? E estará mesmo?... 5. Por fim, mas não menos importante: como eu gostaria que as marcações dos pavimentos das artérias da nossa cidade estivessem (de novo) visíveis!... Não apenas por motivos estéticos, mas também de segurança rodoviária. São várias as passadeiras para peões ainda por pintar. E creio que já era tempo. |
Nota préviaIniciei este blogue em janeiro de 2016, na sequência da criação desta página pessoal. Categorias
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