Artigo publicado no Jornal do Centro (25 de outubro de 2019)
Recentemente duas notícias relacionadas com o futebol chamaram a minha atenção. Não pelo futebol propriamente dito. Há muito que tudo o que gira à volta dele me irrita profundamente. Primeiro foi uma notícia sobre Sadio Mané, senegalês a jogar no Liverpool. Resumidamente, mostra o seu caráter altruísta, patente em diversas decisões que tem tomado. Por exemplo, construção de escolas e infraestruturas desportivas no seu (pobre) país, doação de roupa, sapatos, comida e outros bens a seus conterrâneos em situação de pobreza. ”Para que quero dez Ferraris, vinte relógios de diamantes ou dois aviões? O que é que esses objetos vão fazer por mim e pelo mundo? Prefiro que o meu povo receba um pouco daquilo que a vida me deu”. Para esta atitude muito terá contribuído a sua origem humilde e a sua infância e juventude difíceis. Tocou-me particularmente a sua referência ao facto de não ter tido acesso a educação. No âmbito da minha profissão tenho constatado o quanto e quão pouco é valorizado o acesso a educação, consoante ele seja difícil e fácil, respetivamente. Depois foi a decisão do Sporting Clube de Portugal em retirar o apoio às suas claques. No momento em que escrevo (pouco depois de ter sido conhecida essa decisão) não há reações, mas é crível que elas não se façam esperar – e não sejam propriamente simpáticas… Sendo certo, por um lado, que a atual equipa de gestão herdou uma situação complicada, por outro é inegável que tem sido desastrada em muitas decisões. Porém, devo confessar que apreciei a coragem dos responsáveis do Clube e da SAD nesta e que, de um modo geral, concordo com o exposto no comunicado emitido. Como nele se refere, “esta é uma questão muito séria”, não exclusiva de um clube “e que a partir dum certo momento terá de ser tratada pelo Estado Português”. Este não é um artigo sobre futebol. É sobre valores (morais, entenda-se).
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Artigo publicado no Jornal do Centro (7 de junho de 2019)
Terminou a época futebolística. Como sempre, uns ganham, outros perdem. Este ano pude assistir, no espaço de uma semana, a manifestações de quem soube ganhar, de quem não soube perder e também de quem não soube ganhar. Na hora da vitória no campeonato, o treinador do Benfica teve um discurso invulgar. Invulgarmente bom. Sem os clichés do costume. Saiu do registo habitual, no conteúdo e na forma, de uma forma correta e digna. Soube ganhar. Chegará o momento em que perderá. Aí perceberemos melhor o seu caráter. Já o treinador do Futebol Clube do Porto, perdidos o campeonato e a Taça de Portugal (ambos por culpa própria), mostrou (confirmou) que não sabe perder. Se na final da Taça o argumento que invocou pode servir de atenuante para a sua atitude, o mesmo não acontece relativamente ao que fez no Dragão, no final do jogo com o Benfica onde, no fundo, perdeu o campeonato, quando também deixou de mão estendida um jovem que, disse mais tarde, até passava férias em sua casa. Não soube (não sabe) perder. Mas também pude assistir a uma manifestação de alguém que não sabe ganhar. Foi no último jogo do Tondela, com o Chaves. A meio da primeira parte já o Tondela ganhava por 4-0, resultado que permitiria a manutenção da equipa beirã e a descida de divisão dos transmontanos. Na bancada, a cada golo da sua equipa, a comemoração de um adepto do Tondela resumia-se a “apenas” se dirigir à claque adversária com gritos e gestos insultuosos. Poderia comemorar com manifestações de alegria (como a quase totalidade dos adeptos tondelenses). Mas não. Comemorava com insultos da mais diversa ordem aos apoiantes da equipa opositora. E esteve nisto durante praticamente todo o tempo. Mais preocupado em insultar os opositores do que em apoiar a sua equipa. Porquê? Para quê? Com que necessidade? Com que vantagem?... Não soube ganhar. Para que fique claro: tenho assistido a vários jogos do Tondela em casa e os adeptos são, na sua esmagadora maioria, exatamente o oposto deste. A exceção faz a regra.
Artigo publicado no Jornal do Centro (15 de março de 2019)
Gosto de futebol desde que me lembro. Do jogo em si, entenda-se. No entanto, nos últimos anos tenho perdido muito do interesse que tinha neste desporto, particularmente no que diz respeito ao futebol português. O foco tem passado para aspetos e personagens que não só me interessam pouco como, pior ainda, me repugnam. É cada vez mais raro assistir a um bom jogo de futebol entre nós. Por “bom”, quero dizer não apenas espetacular e vibrante, mas sobretudo sério e leal. Apenas como exemplo: o tempo de jogo é muito reduzido devido às mais diversas artimanhas: falsas lesões, perdas de tempo, simulação de faltas e por aí adiante. Isto não apenas retira ritmo e entusiasmo ao jogo, como provoca uma sensação de mentira e aldrabice que nem todos estão dispostos a aceitar, embora muitos pareçam considerá-la normal. Neste contexto, um caso específico que me irrita profundamente prende-se com o facto de a maioria (se não todos) os jornalistas e comentadores dizerem, quando um jogador simula uma falta ou ludibria o árbitro de outra forma, que ele foi “inteligente”. Esta “valorização positiva” de uma vigarice parece-me francamente condenável. Depois, os árbitros portugueses, de um modo geral, apitam demais. Se apitassem menos, seguramente erravam menos. E havia mais tempo de jogo. Por fim, a quantidade de inenarráveis horas televisivas de conversas de chacha (e de chochos) e de diretos quase sempre disparatados e vazios de conteúdo também não ajudam nada. Antigamente falava-se muito dos 3 “F”: fado, futebol e Fátima. Os 3 “F” mantêm-se na atualidade. Apenas mudaram para futebol, futebol e futebol. A essência da droga e o seu resultado são os mesmos. Alienam-se os mais incautos. Os que se deixam ir em futebóis.
Artigo publicado no Jornal do Centro (13 de abril de 2018)
1. Esta semana comecei por escrever sobre a crise no Sporting. Quando dei por mim, tinha ultrapassado largamente o limite de caracteres que me é imposto. E muito mais havia para dizer! Por isso, decidi mudar de tema e resumir tudo aquilo em duas palavras: uma tristeza!... 2. Lembrei-me, então, de recuperar e atualizar umas notas que tinha escrito há tempos sobre a desmesurada importância dada ao (pior lado do) futebol nos diversos canais de televisão cá do burgo e, em especial, à baixíssima qualidade da esmagadora maioria dos respetivos “comentadores”. Quando dei por mim, tinha acontecido a mesma coisa: caracteres a mais e ainda tinha dito apenas uma pequena parte do que gostaria. Mais uma vez, percebi que podia resumir tudo em duas palavras: uma tristeza!... 3. Depois de mais duas hipóteses que iam desembocar ao mesmo (“uma tristeza!...”), decidi: “Nããã… Vou mas é escrever sobre algo agradável. Ora… o que é que aconteceu de agradável recentemente?”. A resposta foi fácil e rápida: a “Celebração da Primavera 2018”, evento organizado pelo Jornal do Centro, que decorreu no passado dia 4 e no qual foram justamente galardoadas personalidades e instituições da região. Foi um espetáculo bem concebido e bem concretizado. Digno e dignificador. Porém, o que fica como mais relevante é a pujança do projeto “Jornal do Centro”, que inclui um jornal impresso, uma rádio, a vertente digital de ambos e, em breve, uma televisão, inicialmente em streaming e mais tarde por cabo. É bom para a região de Viseu ter informação plural. E julgo ser consensual que o Jornal do Centro é um exemplo de pluralidade, nomeadamente em termos de opinião. Só para encher o resto da coluna: a propósito do dia de hoje, espero que nenhum dos leitores sofra de frigatriscaidecafobia ou parascavedecatriafobia ;-) …
Artigo publicado no Jornal do Centro (1 de setembro de 2017)
1. Pelo seu enorme impacte, também em crianças e jovens, o futebol é muitas vezes apontado como devendo ser um exemplo. Em muitos jogos os jogadores entram em campo com uma criança pela mão. Infelizmente, tudo isto soa a falso, tendo em conta o comportamento de muitos dos seus intervenientes, diretos e indiretos, a todos os níveis. Vem isto a propósito da triste atitude do árbitro Jorge Sousa para com o guarda-redes Stojkovic. A sua defesa generalizada, vinda dos mais diversos quadrantes, deixou-me estarrecido. Considero que não só não pode ser defendida, como deve ser claramente condenada. Não se estranha (embora eu não a aceite) a defesa por parte dos presidentes do Conselho de Arbitragem e da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol. É uma posição corporativa, mas bacoca. Tenho dificuldade em compreender outras. Apenas dois exemplos: “É um castigo ridículo. Não estamos na missa” (António Folha, treinador). “Jorge Sousa é um homem do Norte. Há palavras que em Lisboa são ofensivas, mas que no norte não são” (António Marçal, antigo árbitro). Argumentos patéticos. O árbitro tem meios próprios para agir perante situações destas, desde a repreensão à expulsão do jogador. Pode começar por repreender, com mais ou menos firmeza, mas também com o mínimo de civismo e educação (e não precisa de rezar o Pai-Nosso). Nunca daquela forma desbragada, agressiva e malcriada (em qualquer parte do país). Neste caso, nem o cartão amarelo mostrou. Pergunto-me: e se, em vez de um árbitro a ter este comportamento, fosse um juiz num tribunal? Ou um professor numa sala de aula? E se fosse um árbitro dos distritais? O futebol não pode ser uma montra de má criação e comportamentos eticamente reprováveis. Aceitar (e, pior ainda, defender) isto é prestar um mau serviço, não apenas ao próprio futebol, mas à sociedade em geral. 2. (Off-topic) Cartaz de propaganda de um candidato a presidente da junta de freguesia de Sarilhos Grandes (Montijo): sob a sua fotografia, o slogan “Todos somos Sarilhos Grandes”. Priceless! |
Nota préviaIniciei este blogue em janeiro de 2016, na sequência da criação desta página pessoal. Categorias
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