Artigo publicado no Jornal do Centro (4 de julho de 2020) Na sequência do lamentável episódio que levou à morte de George Floyd às mãos de um agente policial multiplicaram-se diversas manifestações de repúdio um pouco por todo o mundo (e continuam). A ação daquele agente foi excessiva? Absolutamente. Condenável? Sem dúvida. Como foi. Não apenas socialmente, mas também judicialmente. Mas muitas das manifestações que se seguiram foram igualmente excessivas e condenáveis. Em alguns casos, talvez apenas pretexto para outros atos como pilhagens e de puro vandalismo, desapropriados ou mesmo absolutamente despropositados. Ao ultrapassar o razoável, apenas contribuem para o exacerbar de posições e para o radicalismo. Como escrevi há meia dúzia de meses, este parece ser um dos problemas do mundo, atualmente: falta de equilíbrio e bom senso em muitas decisões e ações. De um lado e do outro. Por cá, as reações a este caso também ultrapassaram o razoável. Houve quem tivesse achado que era justificado, entre outros impropérios, dizer que “polícia bom é polícia morto” e gritar a plenos pulmões, em direção a agentes de polícia, que “foram precisos nove meses para parir isto! Nove meses para parir cobardes!”. O principal objetivo talvez fosse obrigá-los a uma reação negativa, facilmente condenável. Mas não. Confesso que fiquei impressionado com a postura profissional daqueles agentes. Perante tão ruidosos manifestantes gritando “Cobardes! Cobardes!” (a propósito de quê?...), mantiveram o equilíbrio e o bom senso necessários à situação. Os manifestantes eram maioritariamente jovens, duma faixa etária que não terá cumprido o serviço militar obrigatório. Talvez lhes tivesse sido útil. Muito provavelmente, mais cedo ou mais tarde, por este ou aquele motivo, pelo menos alguns deles virão a precisar da Polícia. Nesse dia talvez reconsiderem se “polícia bom” é mesmo “polícia morto”. Tenho poucas dúvidas que, de um modo geral, ações condenáveis de agentes policiais são, de longe, a exceção, não a regra. Como acontece, de resto, na maioria das profissões. Há vários anos que considero que, entre nós, as Polícias (e, por consequência, os seus agentes) não são devidamente tratados por quem os tutela. Vezes demais as suas ações não são apoiadas por quem o devia fazer, no momento em que o devia fazer. Pior: muitas vezes são mesmo publicamente desautorizados, nos momentos mais críticos, por quem os devia defender, justamente nesses momentos. Do ponto de vista de liderança, não me parece correto; do ponto de vista de ordem social, isto (sobretudo tendo em conta o contexto sociocultural atual) tem tudo para dar maus resultados.
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Artigo publicado no Jornal do Centro (22 de novembro de 2019)
A obsessão pelo politicamente correto está a ultrapassar (se é que não ultrapassou já) os limites do razoável. Por exemplo, tudo o que envolva questões de género, raça ou etnia é altamente escrutinado e transmitido de uma ou outra forma, consoante o facto em si e o lado de que estão os protagonistas: por vezes, de forma ampliada e exacerbada, outras, de forma mais velada ou suavizada. Há, na minha opinião, um claro desequilíbrio na forma como estes assuntos tendem a ser tratados e divulgados nos meios de comunicação e até na forma como são abordados por individualidades que ocupam cargos de responsabilidade. Assistimos a exemplos de ambos nas últimas semanas. Estou a pensar, concretamente, nos casos do recém-nascido abandonado pela mãe num contentor de lixo e do ataque ao quartel de bombeiros de Borba. Outra área em que me parece estar-se a cair em exagero e falta de equilíbrio tem a ver com as questões ligadas a animais. Todos estaremos certamente de acordo que não apenas não se devem maltratar os animais como, pelo contrário, devem ser tratados com dignidade. Coisa completamente diferente é endeusá-los, que é para onde parece que caminhamos. Na mesma linha de falta de equilíbrio, custa-me ver a forma exacerbada e intolerante como muitos (auto-proclamados) democratas reagem a opiniões diferentes das suas. Mesmo quando é o povo (o seu amado “povo”), em eleições livres e anónimas, a eleger alguém que não partilha das suas ideias. Democracia é, também, tolerância, bom senso, equilíbrio. Certos comportamentos e comentários de muitos “democratas” são simplesmente incompatíveis com isso. Muitos parecem ser democratas apenas se todos alinharem pelas suas ideias. Se tal não acontecer, revelam-se os mais intolerantes e pouco democratas. Um pouco mais de equilíbrio e bom senso só faria bem. A todos. |
Nota préviaIniciei este blogue em janeiro de 2016, na sequência da criação desta página pessoal. Categorias
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