Artigo publicado no Jornal do Centro (30 de agosto de 2019)
O jornal online “Observador” publicou na passada segunda-feira uma interessante entrevista com o professor José Pacheco que, há 40 anos, esteve na origem de (pode dizer-se) uma revolução na forma de ensinar (Escola Básica da Ponte, concelho de Santo Tirso). Seguramente polémica, deve obrigar a refletir, a parar para pensar. Com o devido respeito, deixo meia dúzia de extratos dessa entrevista: - “O centro [da aprendizagem] não é o aluno, mas sim a relação entre professor e estudante. (…) A aprendizagem só acontece quando há criação de vínculos. Se quando estudava teve um professor de quem não gostou, não aprendeu nada. É na qualidade da relação pedagógica que se aprende ou não se aprende. (…) Já fui ingénuo e, durante 30 anos, acreditei que o centro fosse o aluno. Só os burros é que não mudam de ideias.”. - “Um professor não transmite aquilo que diz, transmite aquilo que é.”. - “Não há dificuldades de aprendizagem, há dificuldades de ensinagem [‘Ensino’ é o ato de ensinar, ‘ensinagem’ é o processo pelo qual ocorre a aprendizagem]. Não há alunos com necessidades educativas especiais, há professores com necessidades educativas especiais. Não há alunos deficientes, há práticas deficientes.”. - “Estamos no século XXI, não sei se já entenderam… Como costumo dizer, temos alunos do século XXI, professores do século XX a trabalhar como no século XIX. É um escândalo.”. - “Um teste nada avalia, ou melhor, avalia a capacidade de retenção na memória de curto prazo de determinada informação para debitar num papel e esquecer.”. - (ainda acerca das provas de avaliação e da “necessidade” de colocar os alunos afastados uns dos outros): “(É) agir no pressuposto de que os alunos são desonestos. É transmitir valores errados, da mentira, da desconfiança, da corrupção.”.
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Artigo publicado no Jornal do Centro (2 de agosto de 2019)
(Nota prévia: por razões que se prendem com a paginação e impressão do jornal, este artigo (como os restantes, por regra, foi redigido e enviado para o Jornal do Centro no dia 28 de julho de 2019; nos dias que se seguiram o caso que aqui se relata teve desenvolvimentos que reforçam o essencial da opinião manifestada). No final da semana passada o tema principal das notícias foi o caso das golas antifumo e dos kits que foram distribuídos em cerca de 1 600 aldeias ao abrigo do programa “Aldeias Seguras”. O foco das críticas tem-se centrado no facto de as golas serem inflamáveis. Mas isso até é, na minha opinião, o menos relevante. Não é suposto que elas protejam do fogo, mas sim da inalação de fumos, através de um efeito de filtro. Sucede que as ditas golas não têm o devido tratamento anticarbonização para tal e, isso sim, é grave. Mas mais grave ainda é tudo o que parece ter envolvido o negócio, nomeadamente o seguinte: o material foi fornecido por uma empresa do marido de uma autarca do partido no poder, constituída cerca de meio ano antes de ter sido celebrado o contrato, cujo objeto é "turismo de natureza e exploração de parque de campismo e caravanismo"; a Proteção Civil (que escolheu e aprovou os materiais) optou pela consulta prévia a esta e mais quatro empresas: duas do ramo têxtil, uma da área de marketing digital e outra de comércio de eletrodomésticos, as quais não apresentaram sequer propostas para a aquisição das golas (talvez pelo facto de “golas antifumo” não ser propriamente o seu negócio, digo eu); valor de cada um dos contratos (golas: 102 mil euros; kits: 165 mil euros) superior ao limite máximo para este tipo de procedimento (consulta prévia); preço das golas superior ao dobro do preço de mercado. As reações e explicações oficiais que se seguiram, nomeadamente do Ministro da Administração Interna e da Proteção Civil, foram, para dizer o mínimo, lamentáveis. Todo este episódio é triste. Infelizmente, é apenas mais um, semelhante a tantos outros, na sua essência. Haverá esperança?... Ora bolas!... |
Nota préviaIniciei este blogue em janeiro de 2016, na sequência da criação desta página pessoal. Categorias
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