Artigo publicado no Jornal do Centro (8 de junho de 2018)
Tenho notado, nos últimos tempos, uns quantos movimentos na sociedade que me parecem excessivos, quase fundamentalistas. Um deles diz respeito à igualdade de género (há outros). Considero que as mulheres ainda são, em muitos casos, vítimas de injustiças e discriminações injustificáveis. Do exercício quotidiano da minha profissão não tenho dúvidas das suas qualidades, capacidades e competências pessoais e profissionais. Já o manifestei publicamente há dois anos e, à medida que o tempo passa, mais as respeito e admiro. Vem isto a propósito da recente polémica à volta da campanha de combate ao tabagismo promovida pela Direção Geral da Saúde (DGS). Trata-se de uma curta metragem que mostra uma jovem mãe com cancro do pulmão em fase terminal que sempre fumou e continua a fumar em frente à filha, ainda criança, culpabilizando-se por isso. Considero-o impactante, bem concebido e potencialmente eficaz, com vista a sensibilizar sobretudo um público-alvo específico bem definido pela DGS: as jovens mulheres, justamente por ser o grupo em que o consumo de tabaco mais tem aumentado. Porém, foi alvo de algumas reações negativas, entre as quais a da associação feminista Capazes, que apresentou uma queixa na Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, e a da deputada Isabel Moreira, que considera esta campanha “misógina e culpabilizante das mulheres”, logo "inadmissível, em termos de igualdade de género, e que por isso deve ser retirada”. Confesso que fiquei estupefacto com esta posição. “Misógino” significa “que revela aversão ou desprezo pelas mulheres”. Parece-me francamente exagerado classificar aquela campanha desta forma. O mais irónico no meio disto tudo é que o filme foi concebido por duas jovens mulheres de 18 anos.
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