Artigo publicado no Jornal do Centro (12 de abril de 2019)
Foi recentemente divulgado um estudo que demonstra o importante impacto económico dos institutos politécnicos nas economias das regiões onde se inserem. Trata-se de um estudo semelhante, em termos de metodologia, a outro realizado em 2014, mas agora abrangendo mais instituições (apenas ficaram de fora os institutos politécnicos de Lisboa, Porto e Coimbra). Sendo um estudo sobre o impacto económico, compreende-se que a sua divulgação se tenha centrado nessa perspetiva. Alguns títulos: “Cada aluno dos politécnicos gera 6850 euros para a cidade onde estuda”; “Gastos dos estudantes são 80% do impacto direto dos politécnicos nas regiões”; “O impacto económico dos politécnicos nas regiões onde estão inseridos varia entre 27 e 170 milhões de euros”. Porém, os institutos politécnicos, nomeadamente tendo em conta a sua localização geográfica, geram outros efeitos positivos, não estritamente económicos e não menos importantes. A montante, permitem a um vasto conjunto de pessoas o acesso a formação de nível superior, a mais diversa, de que certamente estariam privadas se essa oferta não existisse localmente. Não apenas muitos jovens que terminam o ensino secundário e que, nomeadamente por dificuldades económicas, dificilmente prosseguiriam os seus estudos, mas também os menos jovens, ativos ou desempregados. A jusante, propiciam a fixação de pessoas nos seus territórios, com todos os efeitos benéficos que daí resultam. E, melhor ainda, pessoas qualificadas. Muitos outros aspetos positivos poderiam ser elencados. A importância dos institutos politécnicos é inegável e por demais evidente. Todos ganhariam se houvesse mais convergência e consenso em seu torno. As instituições têm de ser (e são, sempre) mais importantes que os indivíduos. Têm de ser estes a servir aquelas, não a servir-se delas.
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Artigo publicado no Jornal do Centro (15 de março de 2019)
Gosto de futebol desde que me lembro. Do jogo em si, entenda-se. No entanto, nos últimos anos tenho perdido muito do interesse que tinha neste desporto, particularmente no que diz respeito ao futebol português. O foco tem passado para aspetos e personagens que não só me interessam pouco como, pior ainda, me repugnam. É cada vez mais raro assistir a um bom jogo de futebol entre nós. Por “bom”, quero dizer não apenas espetacular e vibrante, mas sobretudo sério e leal. Apenas como exemplo: o tempo de jogo é muito reduzido devido às mais diversas artimanhas: falsas lesões, perdas de tempo, simulação de faltas e por aí adiante. Isto não apenas retira ritmo e entusiasmo ao jogo, como provoca uma sensação de mentira e aldrabice que nem todos estão dispostos a aceitar, embora muitos pareçam considerá-la normal. Neste contexto, um caso específico que me irrita profundamente prende-se com o facto de a maioria (se não todos) os jornalistas e comentadores dizerem, quando um jogador simula uma falta ou ludibria o árbitro de outra forma, que ele foi “inteligente”. Esta “valorização positiva” de uma vigarice parece-me francamente condenável. Depois, os árbitros portugueses, de um modo geral, apitam demais. Se apitassem menos, seguramente erravam menos. E havia mais tempo de jogo. Por fim, a quantidade de inenarráveis horas televisivas de conversas de chacha (e de chochos) e de diretos quase sempre disparatados e vazios de conteúdo também não ajudam nada. Antigamente falava-se muito dos 3 “F”: fado, futebol e Fátima. Os 3 “F” mantêm-se na atualidade. Apenas mudaram para futebol, futebol e futebol. A essência da droga e o seu resultado são os mesmos. Alienam-se os mais incautos. Os que se deixam ir em futebóis.
Artigo publicado no Jornal do Centro (15 de fevereiro de 2019)
“Cada vez há mais portugueses com crédito automóvel. Em 2018, registou-se um valor recorde de novos empréstimos para compra de carros, sobretudo usados. Até ao final de novembro, o montante de novo crédito automóvel contratado em Portugal somava 2,8 mil milhões de euros. Nunca os portugueses se endividaram tanto para este fim.” (in Jornal de Notícias, 9-fev-2019) Em 2018 foram efetuados mais de 200 mil novos contratos de crédito automóvel. Em média, foram cerca de oito milhões de euros por dia. É obra. Esta tendência estende-se a outros tipos de crédito, como o crédito para compra de casa. As baixas taxas de juro ajudam a explicá-la. Há cerca de cinco anos que as taxas Euribor são negativas, o que se reflete nas taxas de juro praticadas na maioria das operações. Porém, este cenário não se manterá durante muito tempo. Mais cedo ou mais tarde elas voltarão a subir. E quando isso acontecer, as prestações do crédito vão também subir. Provavelmente, nessa altura muitas famílias passarão por maus bocados. Há tempos, um antigo aluno que trabalhava na banca dizia-me: “Muitas pessoas, ao contratarem um crédito habitação, preocupam-se apenas com quanto ficam a pagar nesse momento. Não querem saber o que pode acontecer mais tarde.”. E a verdade é que, sobretudo em contratos de prazos longos, o valor das prestações irá aumentar, garantidamente, com o passar do tempo. Ainda não há meio século, a preocupação era poupar e deixar algum pé-de-meia aos herdeiros. O consumismo e a facilidade de acesso ao crédito fizeram com que se passasse dessa cultura de poupança para outra, de endividamento. Projetando esta tendência, associada a outra, que parece incontornável, que é a degradação do valor das reformas de muitas pessoas, obriga a pensar como será a sua velhice dentro de duas ou três décadas.
Artigo publicado no Jornal do Centro (18 de janeiro de 2019)
O Governo, através do ministro da Ciência e outros responsáveis, manifestou-se favorável ao fim (gradual) das propinas no ensino superior. Como seria expectável, apareceram posições a favor (entre as quais, a do Presidente da República) e contra (Marçal Grilo e Manuela Ferreira Leite, entre outros). Pessoalmente, sou contra o fim das propinas, ou seja, contra o ensino superior gratuito de forma universal. Entre outras razões, porque torna as instituições totalmente dependentes do Orçamento de Estado, agrava as desigualdades sociais, de forma direta e indireta (sim, ao contrário do que pode parecer) e pode conduzir a menor empenho por parte de alguns alunos (e menor pressão sentida pelo próprio e imposta pela sua família). Mesmo que do ponto de vista macroeconómico os recursos fossem ilimitados, não pagar propinas seria sempre um sinal errado. A educação (o conhecimento) é um bem valioso. Tem valor intrínseco. Torná-lo gratuito é desvalorizá-lo. Entendo que, por defeito, a educação de nível superior deve ser (parcialmente) paga por quem dela beneficia, ou seja, o estudante. Mas também acho que compete ao Estado garantir que ninguém fique sem a ela ter acesso por razões económicas. Como? Devolvendo parte, a totalidade ou até um valor superior ao das propinas aos estudantes que realmente necessitem e tenham aproveitamento escolar (e apenas a estes). Gostaria, pois, que a intervenção do Estado fosse por esta via, reforçando a ação social escolar, concumitantemente com uma melhoria do seu funcionamento, nomeadamente em termos de justiça na distribuição das verbas. A educação e o conhecimento são bens com valor. A propina no ensino superior também serve para sinalizar este aspeto. Se forem gratuitos, a ideia que se está a passar é que se trata de bens de tão baixo valor que até podem ser “dados”. É errado.
Artigo publicado no Jornal do Centro (21 de dezembro de 2018)
Alguns deputados da Nação (e outros políticos) têm revelado um caráter que deixa muito a desejar. De entre vários episódios, o que mais me irritou recentemente foi o das falsas presenças. Insuportável. Indigno de alguém que ocupa tal lugar. Por mais voltas que deem, não há como branquear atitudes destas. Infelizmente, a Assembleia da República tem sido palco fértil de tristes cenas. Entre um ministro a mostrar uns corninhos a um deputado e alguns episódios mais ou menos dissimulados de “dedos do meio”, uma música de telemóvel alusiva ao espetáculo tauromáquico que um deputado achou engraçado (?) pôr a tocar após a votação do IVA nas touradas ou pintar as unhas em plena sessão de trabalho até nem parecem nada de especialmente criticável. Mas são! De um modo geral, o tom dominante em muitas sessões da Assembleia da república é, na minha avaliação, francamente condenável, para não dizer deplorável. As intervenções são quase sempre pautadas pelo tom sarcástico, o risinho irónico, a piadola. É muito raro assistirmos a uma discussão com elevação, seriedade, responsabilidade e dignidade. Seria razoável esperar isso de pessoas adultas e com tamanha responsabilidade nos destinos da nação. E, de preferência, discutindo temas realmente importantes para o dia a dia dos cidadãos. Mas isso é outra conversa. Eu deveria sentir-me representado pelos senhores deputados (e senhoras deputadas, como parece que agora tem de se dizer). Lamento, mas não sinto. Problema meu, eu sei. Mas confesso que me sinto desiludido, incomodado e até irritado com muitas das suas atitudes e comportamentos, que muito frequentemente variam entre o “apenas” pouco digno e o insuportavelmente miserável. |
Nota préviaIniciei este blogue em janeiro de 2016, na sequência da criação desta página pessoal. Categorias
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