Artigo publicado no Jornal do Centro (29 de janeiro de 2016)
Na sequência de um convite que muito me honrou, inicio hoje uma colaboração com o Jornal do Centro. Como vou escrever cumprindo (ou tentando cumprir) o Novo Acordo Ortográfico, decidi partilhar duas ou três ideias sobre este tema no primeiro artigo. O Novo Acordo tem sido fonte de discórdia e… desacordo. Pessoas influentes têm-se manifestado contra e continuam a escrever publicamente segundo as regras anteriores. Pela parte que me toca, confesso que também não gosto de algumas alterações. Porém, como mero utilizador, acho que elas são globalmente aceitáveis. Entendo-as como uma evolução, no sentido de “nova fase”, da língua escrita.
Tenho na minha biblioteca particular um livro de 1918 onde constam as seguintes palavras, em apenas uma página: commercio, auctor, escripturação commercial, augmentada, Typographia, Empreza, Bibliotheca. Ao longo da obra existem dezenas de palavras que atualmente se escrevem de forma diferente. Ainda não passaram cem anos. Hoje ninguém reclama das alterações entretanto efetuadas (enfim, dos que se poderiam queixar, já poucos estão entre nós…). Será que alguém pode razoavelmente esperar que daqui a cem anos se escreva da mesma forma que hoje?
A vida é feita de evoluções (novas fases). A técnica evolui, a ciência evolui e, de um modo geral, a sociedade tende a sair mais beneficiada do que prejudicada com isso. Porque não há de a língua (ortografia) evoluir? Provavelmente, quando uma língua deixar de evoluir, é sinal que morreu. No meu caso concreto, a questão de adotar ou não o Novo Acordo nem se coloca. Goste ou não dele, a verdade é que na minha profissão de docente tenho de o seguir, pois é de utilização obrigatória desde setembro de 2011. Não o adotar no exercício da profissão seria violar uma norma legal. Há muitas outras normas legais, as mais diversas, com as quais discordo mas que tenho de cumprir, sob pena de sofrer algum tipo de penalização. O que sucede com o Novo Acordo é que não há qualquer penalização para quem não o adotar (exceto para algumas situações no meio escolar). Provavelmente é uma de poucas normas legais que, se violada, não origina qualquer sanção. Acresce ainda que (é a minha opinião) é cómodo ser contra o Acordo. E até chique, aparentemente… Muito mais importante do que discutir o Novo Acordo seria discutir, de forma séria e aprofundada, o facto de cada vez mais alunos concluirem o ensino secundário e até o ensino superior com gravíssimas deficiências a Língua Portuguesa. E não me refiro apenas a erros ortográficos!...
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Nota préviaIniciei este blogue em janeiro de 2016, na sequência da criação desta página pessoal. Categorias
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