Artigo publicado no jornal E-Notícia, da Associação de Estudantes da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu
Dirigindo-se este jornal, sobretudo, a alunos da ESTGV (alunos de engenharia e gestão em sentido amplo) parece-me oportuno abordar um tema que considero de grande importância para qualquer cidadão e, em especial para alunos do ensino superior, independentemente do curso que frequentam. Refiro-me à questão da (i)literacia financeira. Considero que qualquer cidadão deveria possuir um conjunto de conhecimentos financeiros mínimos. Isso deveria competir à Escola (entenda-se, ao sistema de ensino). Na sociedade actual, goste-se ou não, o relacionamento com os bancos é incontornável, quer ao nível profissional, quer particular. Esta relação é muito assimétrica: uma das partes (o cliente) tem muito menos informação (conhecimento) do que a outra (o banco) ficando, por isso, numa situação de grande fragilidade. Fala-se, hoje, muito do problema do sobreendividamento e atribui-se normalmente a culpa à banca. Concordo, mas creio que há mais responsáveis. As próprias
pessoas, claro, mas também o Estado, na medida em que não lhes proporciona a mais pequena sensibilização para estes problemas. De facto, o actual quadro do sistema de ensino pura e simplesmente ignora a sensibilização das crianças e jovens para as questões ligadas ao dinheiro. O Estado tem preferido legislar, legislar, legislar. Mas por muito que se legisle, nunca se legisla tudo. Além disso, a legislação não é, quase nunca, preventiva; pretende antes ser curativa, ou seja, aparece para resolver um problema que já se manifestou, não para o prevenir. Na verdade, ela nem sequer é verdadeiramente curativa, mas sim paliativa. Entendo convictamente que seria preferível educar as pessoas, começando pelas crianças e jovens. Sucede que nem sequer aos estudantes que, no 10º ano, optam por Estudos Socioeconómicos são facultados ensinamentos financeiros básicos! O que se passa actualmente é que o país está a formar jovens adultos completamente iletrados do ponto de vista financeiro. Perante isto, será de admirar que haja cada vez mais pessoas sobreendividadas?
Este estado de coisas estende-se, depois, pelo percurso universitário. É compreensível que, com a cada vez menor duração das licenciaturas, o tempo nem sequer chegue para abordar o essencial de cada curso, quanto mais para abordar outros temas, entendidos como laterais. Isto sugere-me duas reflexões:
E que assuntos seriam esses? Eis alguns exemplos: - O que é e como é calculada a Euribor? O que é o “spread”? - O que significa taxa nominal, taxa efectiva, capitalização de juros, taxa bruta, taxa líquida? - Como são calculados os juros dos depósitos? E dos empréstimos? Há legislação específica sobre isto? - Como é que o banco calcula o valor das prestações associadas a um financiamento, tanto a nível profissional como particular (leasing e crédito habitação, por exemplo)? - Como devo escolher entre várias propostas de financiamento? Que factores devo ter em consideração? - O que posso fazer para baixar o valor da prestação relativa a um empréstimo? Quais os impactos a outros níveis? - Se conseguir efectuar determinada amortização extraordinária, quanto fico a pagar a menos em cada prestação? Quanto poupo, com isso, no final? - Como posso avaliar se determinado investimento é interessante ou não? Que limitações tem essa avaliação? Estes (e muitos outros) são temas habitualmente abordados numa disciplina (ou “unidade curricular”, como se passou a dizer em bolonhês) que faz parte da maioria das licenciaturas (e mesmo Pós-Graduações) em Gestão e afins, designada Cálculo Financeiro. É o que acontece na ESTGV, nas licenciaturas em Gestão de Empresas e Contabilidade e Administração. Dirão que estou a chegar a brasa à minha sardinha mas repito: convictamente, penso que estes assuntos são suficientemente interessantes e importantes para fazerem parte do plano de estudos de qualquer licenciatura, E quando digo “qualquer” quero mesmo dizer “qualquer”. Todas! Evidentemente, com alguns ajustamentos em termos de conteúdos e carga horária. Digo mais: de todas as unidades curriculares de todos os cursos, esta é certamente das que têm mais utilidade prática para o futuro, independentemente da profissão que vier a ser exercida. Ela fornece um conjunto de conceitos que hoje deveriam ser considerados básicos para o exercício da cidadania, mais do que simplesmente úteis para o exercício de uma ou outra profissão. A este respeito cabe referir que o Departamento de Gestão da ESTGV (dGest) tem promovido, nos últimos anos, alguns cursos breves nesta área. Um deles é o curso “Noções Fundamentais de Cálculo Financeiro para Futuros Engenheiros”, que este ano terá a sua terceira edição. Trata-se de um curso de aproximadamente 10 horas, dirigido a alunos finalistas de qualquer curso de Engenharia da Escola. A sua frequência é gratuita. Nele serão abordados os conceitos e temas atrás referidos. Quem estiver interessado em frequentá-lo pode obter mais pormenores no Secretariado do dGest, junto à sala 6 (telef. 232 480 597; [email protected]). No fundo, é um modesto contributo do Departamento de Gestão no sentido de promover a literacia financeira dos futuros engenheiros diplomados pela ESTGV.
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Nota préviaIniciei este blogue em janeiro de 2016, na sequência da criação desta página pessoal. Categorias
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