Rogério Matias
  • Sobre mim
  • Atividades
    • Livros
    • Cursos
  • Eventos
  • Imprensa
  • Blogue
  • Contacto
  • Sobre mim
  • Atividades
    • Livros
    • Cursos
  • Eventos
  • Imprensa
  • Blogue
  • Contacto

Bur(r)ocracia

15/4/2014

0 Comentários

 
Imagem
Artigo publicado em vários jornais da região de Viseu, no âmbito do Projeto "Clareza no Pensamento"

Cada vez mais e a um ritmo alucinante, procedimentos que deveriam ser apenas um meio para atingir um fim estão a transformar-se num fim em si mesmo. Procedimentos burocráticos inúteis que (só) fazem perder muito tempo e desviar recursos para o acessório, deixando cada vez menos tempo para o essencial.

Há já algum tempo que ando para escrever sobre este tema. O clique final surgiu há dias, ao ler uma notícia em que o Bastonário da Ordem dos Médicos dizia que os clínicos são obrigados a “colocar o computador no centro das consultas”, prejudicando a assistência ao doente. Nas suas próprias palavras, “é uma farsa imposta por burocratas para justificarem a sua própria existência”. Segundo a notícia, médicos com listas de 1900 doentes são obrigados a preencher cada vez mais itens no computador e, por isso, não têm tempo para realmente observarem os doentes. O Bastonário questionava ainda os ganhos em saúde que resultam destes indicadores, mas afirmava não ter dúvidas de que a relação médico-doente sai prejudicada.
 
Ora isto é exatamente o que tenho vindo a constatar, sobretudo na Educação, mas não só.
 
A maioria das pessoas não tem certamente esta perceção, mas os professores trabalham cada vez mais horas e têm cada vez menos tempo disponível para aquilo que deveria ser a sua ocupação (e preocupação) principal: as aulas e os alunos. É quase insano o que se passa. Tanto quanto sei, isto começou a acentuar-se no Secundário há alguns anos e recentemente chegou ao Superior. Muitos docentes, sobretudo aqueles que ocupam cargos, são obrigados a relegar as aulas e os alunos para o final da lista das suas preocupações porque o seu dia a dia é preenchido com tarefas acessórias, meramente burocráticas, absolutamente desmotivantes e sem qualquer (ou, vá lá, com reduzíssimo) utilidade prática, real. O que deveria ser apenas um meio acaba por se transformar num fim em si mesmo. Faz-se uma quantidade de coisas apenas porque sim. Para arquivar. Uma vez arquivado, toda a gente fica “feliz”. O facto de isso não servir para nada é apenas um detalhe. Tal como os custos e os resultados associados.
 
Afinal de contas, para que existe a Escola? Quem deve realmente servir? Como (a que fim) deve ser alocada a maior parte do tempo de trabalho semanal de um docente? A propósito: quase ninguém faz a mínima ideia de quanto tempo trabalha um docente. Quantas horas por dia e quantos dias por semana. Posso afiançar que é muito mais do que a esmagadora maioria das pessoas pensa. Mas o que é realmente grave é que apenas uma parte relativamente pequena desse tempo é dedicada àquilo que realmente deveria ser o seu foco de preocupação: o ensino propriamente dito.
 
Eu decidi recentemente largar todos os cargos que ocupava na minha Escola e ser “apenas” docente, quando dei por mim a dedicar a maior parte do meu dia (e uma grande parte da noite) a tarefas burocráticas inúteis e desmotivantes, obrigando-me a ter de fazer aquilo que considero ser essencial em horas e dias impróprios. Aquilo e aqueles que eu considero essenciais nesta profissão (o ensino e os alunos) estavam a sair prejudicados por toda uma carga de tarefas que, na verdade, parecem servir apenas para alguns burocratas justificarem a sua própria existência. Fi-lo por respeito aos meus alunos e a mim mesmo. Sim, eu preciso de ter tempo, não apenas para eles, mas também para mim, que diabo!... E a verdade é que estava a distrair-me da vida (Manuel Forjaz, lembram-se?…).
 
Do que vou sabendo, passa-se basicamente o mesmo noutros setores da Administração Pública e nas empresas: muitos (e cada vez mais) recursos estão a ser obrigatoriamente canalizados para dar resposta a coisas inúteis, mas obrigatórias, quando deveriam estar alocados a criar valor. A estúpida burocracia que se tem acentuado nos últimos anos, penso que de forma transversal a todos os setores da sociedade, está a infernizar a vida das pessoas, que se estão a deixar ir na onda, qual sapo em lume brando. Atrever-me-ia a perguntar-lhe: quantas horas por semana tem para si, para viver a sua vida, depois de descontadas aquelas que dedica ao trabalho e às suas necessidades mais básicas como comer e dormir?
 
Caramba, algo vai mal, muito mal, quando o foco da atenção do médico não é o doente e o do professor não é o aluno!...

0 Comentários



Enviar uma resposta.

    Nota prévia

    Iniciei este blogue em janeiro de 2016, na sequência da criação desta página pessoal.
    Incluí nele alguns artigos que escrevi nos últimos anos (desde 2009), a maioria dos quais no âmbito do projeto Clareza no Pensamento. A data  indicada em cada artigo é a data da sua publicação original.

    Categorias

    Todos
    Burocracia
    Civismo
    Clareza No Pensamento
    Covid-19
    Democracia
    Ensino
    Euribor
    Futebol
    Jornal Do Centro
    Literacia Financeira
    Notas Breves...
    Novo Acordo Ortográfico
    Tolerância

    Arquivos

    Novembro 2020
    Agosto 2020
    Julho 2020
    Junho 2020
    Maio 2020
    Abril 2020
    Março 2020
    Fevereiro 2020
    Janeiro 2020
    Dezembro 2019
    Novembro 2019
    Outubro 2019
    Setembro 2019
    Agosto 2019
    Julho 2019
    Junho 2019
    Maio 2019
    Abril 2019
    Março 2019
    Fevereiro 2019
    Janeiro 2019
    Dezembro 2018
    Novembro 2018
    Outubro 2018
    Agosto 2018
    Julho 2018
    Junho 2018
    Maio 2018
    Abril 2018
    Março 2018
    Fevereiro 2018
    Janeiro 2018
    Dezembro 2017
    Novembro 2017
    Outubro 2017
    Setembro 2017
    Agosto 2017
    Julho 2017
    Junho 2017
    Maio 2017
    Abril 2017
    Março 2017
    Fevereiro 2017
    Janeiro 2017
    Dezembro 2016
    Novembro 2016
    Outubro 2016
    Setembro 2016
    Agosto 2016
    Julho 2016
    Junho 2016
    Maio 2016
    Abril 2016
    Março 2016
    Fevereiro 2016
    Janeiro 2016
    Outubro 2015
    Março 2015
    Setembro 2014
    Abril 2014
    Agosto 2013
    Janeiro 2013
    Julho 2012
    Julho 2011
    Março 2011
    Novembro 2010
    Abril 2010
    Março 2010
    Fevereiro 2010
    Dezembro 2009
    Outubro 2009
    Setembro 2009
    Julho 2009
    Maio 2009
    Março 2009

    Feed RSS

(C) 2016 Rogério Matias. Todos os direitos reservados.