Artigo publicado no Jornal do Centro (17 de janeiro de 2020)
1. Boas? Não. Más. Um documento interno da Caixa Geral de Depósitos veio a dar origem à análise de quase 95 000 ficheiros eletrónicos por parte da Autoridade da Concorrência (AdC) que, por sua vez, gerou um relatório de quase 1000 páginas. Em causa está a prática concertada de troca de informações sensíveis sobre crédito habitação, durante quase 11 anos, com outros cinco bancos (BCP, Santander, BES, BPI e Montepio). Segundo as notícias agora divulgadas (jornal “Expresso”, 10 de janeiro de 2020), para a AdC, “atento o grau de detalhe e precisão das informações (…) considera-se que o seu conteúdo não era público, era sensível e estratégico”. Em resultado disto, a AdC aplicou uma coima global de 225 milhões de euros a estes e mais 8 bancos, oscilando entre os 1000 euros ao Banif e os 82 milhões à CGD. Obviamente, os bancos vão contestar a decisão em tribunal. Esta é, na minha opinião, a pior forma de penalizar os infratores. É que quem se está a penalizar, em última análise, somos todos nós, clientes bancários. Mesmo que os bancos venham a ter de pagar, a fatura cair-nos-á em cima, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou outra. Por exemplo, através de comissões e comissõezinhas, porque sim ou porque não. Imaginação não lhes falta, como se tem visto. Aquilo que à primeira vista podia ser uma boa notícia, talvez seja, afinal, uma má notícia. O ideal seria atribuir responsabilidades e, sendo o caso, culpa e penas a pessoas, não aos bancos. 2. Falsas. Cada vez mais circulam notícias falsas como se fossem verdadeiras, que rapidamente se tornam “virais” (como agora se diz…). Pessoalmente, sempre que quero confirmar a veracidade de certas notícias (ou “notícias”), consulto pelo menos um sítio na Internet: Snopes (www.snopes.com). A título de exemplo, o suposto vídeo do míssil que vitimou o general iraniano Qassem Soleimani no início deste ano foi rapidamente desmascarado. Tratava-se, afinal de uma cena de um jogo de vídeo para telemóvel, já com mais de 5 anos.
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Artigo publicado no Jornal do Centro (20 de dezembro de 2019)
Passada a crise (?...) as pessoas estão a endividar-se mais e os bancos a conceder crédito com mais facilidade. Pelo menos, alguns tipos de crédito. Aparentemente, “na boa”, uns e outros. Na passada segunda-feira uma notícia do jornal digital “Eco” dava conta de um novo máximo histórico na concessão de crédito ao consumo. Até ao final de outubro deste ano tinham sido concedidos cerca de 6,3 mil milhões de euros de crédito ao consumo. No dia seguinte, um amigo mostrou-me uma mensagem de correio eletrónico que o seu banco lhe tinha enviado nesse dia, propondo-lhe um crédito, ou seja, no fundo, incentivando-o a endividar-se. Apesar de o texto da simulação enviada estar redigido como se tivesse sido o cliente a pedir a simulação, a verdade é que a iniciativa foi do banco. Ele não tinha pedido nada. Parece que alguns bancos estão de novo particularmente agressivos na concessão de crédito. Ou melhor: de alguns tipos de crédito. Seria bom que a banca, em geral, fosse igualmente tão “ligeira” a emprestar às empresas, ao investimento. Voltando ao caso do meu amigo, tratava-se de crédito pessoal, uma das categorias do crédito ao consumo. “Para concretizar os seus planos ou realizar os seus sonhos”, dizia a mensagem. Como, além dos juros (já por si, elevados), estes créditos acarretam ainda comissões e impostos, contas feitas, a taxa global a pagar pelo cliente seria de 9%. Isto, numa altura em que os bancos remuneram os depósitos a 0 (zero) por cento. Haverá seguramente quem diga que se trata apenas de uma ação comercial por parte do banco. Pessoalmente, vejo aqui sinais de irresponsabilidade, despudor, eventualmente (até) abuso. E muita memória curta. Esta, de ambos os lados: bancos e consumidores.
Artigo publicado no Jornal do Centro (22 de novembro de 2019)
A obsessão pelo politicamente correto está a ultrapassar (se é que não ultrapassou já) os limites do razoável. Por exemplo, tudo o que envolva questões de género, raça ou etnia é altamente escrutinado e transmitido de uma ou outra forma, consoante o facto em si e o lado de que estão os protagonistas: por vezes, de forma ampliada e exacerbada, outras, de forma mais velada ou suavizada. Há, na minha opinião, um claro desequilíbrio na forma como estes assuntos tendem a ser tratados e divulgados nos meios de comunicação e até na forma como são abordados por individualidades que ocupam cargos de responsabilidade. Assistimos a exemplos de ambos nas últimas semanas. Estou a pensar, concretamente, nos casos do recém-nascido abandonado pela mãe num contentor de lixo e do ataque ao quartel de bombeiros de Borba. Outra área em que me parece estar-se a cair em exagero e falta de equilíbrio tem a ver com as questões ligadas a animais. Todos estaremos certamente de acordo que não apenas não se devem maltratar os animais como, pelo contrário, devem ser tratados com dignidade. Coisa completamente diferente é endeusá-los, que é para onde parece que caminhamos. Na mesma linha de falta de equilíbrio, custa-me ver a forma exacerbada e intolerante como muitos (auto-proclamados) democratas reagem a opiniões diferentes das suas. Mesmo quando é o povo (o seu amado “povo”), em eleições livres e anónimas, a eleger alguém que não partilha das suas ideias. Democracia é, também, tolerância, bom senso, equilíbrio. Certos comportamentos e comentários de muitos “democratas” são simplesmente incompatíveis com isso. Muitos parecem ser democratas apenas se todos alinharem pelas suas ideias. Se tal não acontecer, revelam-se os mais intolerantes e pouco democratas. Um pouco mais de equilíbrio e bom senso só faria bem. A todos.
Artigo publicado no Jornal do Centro (25 de outubro de 2019)
Recentemente duas notícias relacionadas com o futebol chamaram a minha atenção. Não pelo futebol propriamente dito. Há muito que tudo o que gira à volta dele me irrita profundamente. Primeiro foi uma notícia sobre Sadio Mané, senegalês a jogar no Liverpool. Resumidamente, mostra o seu caráter altruísta, patente em diversas decisões que tem tomado. Por exemplo, construção de escolas e infraestruturas desportivas no seu (pobre) país, doação de roupa, sapatos, comida e outros bens a seus conterrâneos em situação de pobreza. ”Para que quero dez Ferraris, vinte relógios de diamantes ou dois aviões? O que é que esses objetos vão fazer por mim e pelo mundo? Prefiro que o meu povo receba um pouco daquilo que a vida me deu”. Para esta atitude muito terá contribuído a sua origem humilde e a sua infância e juventude difíceis. Tocou-me particularmente a sua referência ao facto de não ter tido acesso a educação. No âmbito da minha profissão tenho constatado o quanto e quão pouco é valorizado o acesso a educação, consoante ele seja difícil e fácil, respetivamente. Depois foi a decisão do Sporting Clube de Portugal em retirar o apoio às suas claques. No momento em que escrevo (pouco depois de ter sido conhecida essa decisão) não há reações, mas é crível que elas não se façam esperar – e não sejam propriamente simpáticas… Sendo certo, por um lado, que a atual equipa de gestão herdou uma situação complicada, por outro é inegável que tem sido desastrada em muitas decisões. Porém, devo confessar que apreciei a coragem dos responsáveis do Clube e da SAD nesta e que, de um modo geral, concordo com o exposto no comunicado emitido. Como nele se refere, “esta é uma questão muito séria”, não exclusiva de um clube “e que a partir dum certo momento terá de ser tratada pelo Estado Português”. Este não é um artigo sobre futebol. É sobre valores (morais, entenda-se).
Artigo publicado no Jornal do Centro (27 de setembro de 2019)
Em 18 de junho de 2018 escrevia nestas páginas: “Tenho notado, nos últimos tempos, uns quantos movimentos na sociedade que me parecem excessivos, quase fundamentalistas.”. O artigo referia em concreto uma situação no âmbito da igualdade de género, mas o que não falta por aí são outras (e à escala global). Retomo o tema, agora com duas (supostas) atitudes racistas no espaço de três dias. Começou com uma foto com quase 20 anos do primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, em que aparece mascarado de Aladino, numa festa cujo tema era “As mil e uma noites”. Tendo escurecido o tom de pele, é agora acusado de “racista” (por um adversário político). Ridículo. Depois foi um inofensivo tweet de Bernardo Silva dirigido, em inequívoco tom de brincadeira, ao colega de equipa (e amigo!) Benjamim Mendy (de raça negra), que até alinhou na mesma, mas que indignou a Kick It Out, uma organização que se diz combater o racismo, ao ponto de ter apresentado queixa do jogador. Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, racismo é 1. Teoria que defende a superioridade de um grupo sobre outros, baseada num conceito de raça, preconizando, particularmente, a separação destes dentro de um país (segregação racial) ou mesmo visando o extermínio de uma minoria; ou 2. Atitude hostil ou discriminatória em relação a um grupo de pessoas com características diferentes, nomeadamente etnia, religião, cultura, etc.. Alguém no seu perfeito juízo pode achar que o tweet de Bernardo Silva e a reação de Mendy se enquadram em alguma destas hipóteses?! Eu diria que é exatamente o contrário: revelam grande amizade e cumplicidade. O que tenho constatado ultimamente é que muitos (ditos) defensores de uma qualquer causa, quase sempre baseada na tolerância, são os mais intolerantes. Fundamentalistas. ***** Duas semanas depois de publicado este artigo, leio numa revista de projeção nacional um outro ("A desvairada parvoíce do politicamente correcto", in Visão, 09-10-2019) na mesma linha e focando os mesmos exemplos, por alguém muito mais abalizado (Professor Doutor José Brissos-Lino). |
Nota préviaIniciei este blogue em janeiro de 2016, na sequência da criação desta página pessoal. Categorias
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