Artigo publicado no Jornal do Centro (16 de fevereiro de 2018)
Ao entrarmos numa sala de aulas, hoje, em praticamente qualquer nível de ensino (do básico ao superior), não encontramos, na essência, muitas diferenças para o que era uma sala de aulas há cem anos: um local para o professor e um conjunto de mesas e cadeiras para os alunos, tão alinhadas quanto possível. Pessoalmente, aceitando que isto possa ser adequado em algumas circunstâncias, tenho dificuldade em encontrar um espaço mais inadequado para aprendizagem nos dias de hoje. O mesmo se passa ainda, em muitos casos, relativamente à metodologia: o professor expõe a matéria, esperando que os alunos o ouçam atentamente e por longos períodos, durante o dia, todos os dias. Da mesma forma, salvo alguns casos, esta metodologia sobretudo expositiva justifica-se cada vez menos. Verdade seja dita: há cada vez mais abordagens diferentes por esse mundo fora e Portugal não será exceção. Uma abordagem interessante, aplicável em muitas áreas do saber e com adesão crescente por todo o mundo, com resultados muito animadores, é a conhecida por flipped learning. De uma forma simples, trata-se de inverter o processo tradicional: a transmissão de conhecimentos direta (professor-aluno) deixa de ser feita em grupo, no tempo da aula, para passar a sê-lo de forma individual, através de materiais previamente disponibilizados pelo professor (leituras, videos, exercícios…) e o tempo de aula, em grupo, é transformado num espaço dinâmico, interativo, no qual o professor orienta os alunos e esclarece as suas dúvidas. Claro que isto, por si só, não basta. É necessário um ambiente flexível, não apenas do ponto de vista físico (mobiliário da sala de aula) mas também do funcionamento da aula (algum caos controlado) e, sobretudo, uma uma verdadeira cultura de aprendizagem ativa, da parte dos alunos e do professor. O professor é, aliás, em muitos casos, o maior obstáculo ao sucesso desta abordagem. Sim, para muitos isto pode parecer estranho ou, no mínimo, “romântico”. Nada como experimentar…
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Artigo publicado no Jornal do Centro (19 de janeiro de 2018)
Nota prévia: o meu artigo deste mês era sobre a fundamentalista fúria legislativa que por aí vai, nomeadamente no que diz respeito a produtos alimentares e em particular à possível proibição da disponibilização de sal nas mesas dos restaurantes, mas “entusiasmei-me” e quando dei por mim tinha um artigo que me pareceu… inapropriado. Vai um mais insosso, então. 1. O ano de 2018 começa com novas regras no crédito à habitação e outros créditos hipotecários. Uma delas é a substituição da FIN (ficha de informação normalizada) pela FINE (ficha de informação normalizada europeia). É um documento que contém as principais características do crédito, que deve ser disponibilizado ao cliente, quer para uma simples simulação, quer na aprovação de um contrato. É um documento interessante e considero que, em termos gerais, está melhor que o seu antecessor (a FIN). No entanto, é minha convicção que, ainda assim, apenas uma pequeníssima parte dos seus destinatários é capaz de o compreender, de facto. E desses, a maioria não precisa dele, porque detém conhecimentos que o dispensam. Aquela grande massa de destinatários a quem ele poderia ser útil não o percebe. Ou seja, no fundo, acaba por ser um documento inútil para uns e para outros, por razões opostas. E acarreta custos que acabam por ser repercutidos sobre o cliente. Já o manifestei em tempos: verdadeiramente útil seria investir na educação, na promoção da literacia – neste caso, financeira, mas isto é válido para todas as áreas. 2. Há duas coisas que me têm incomodado nos últimos anos: a quase leviandade com que se entoa o hino nacional, por “dá cá aquela palha”, e o facto de aplaudir o que quer que seja sempre que é decretado um minuto de silêncio. Apreciei muito a forma como largas centenas de adeptos do Benfica e do Sporting, maioritariamente jovens, respeitaram a memória das vítimas do incêndio em Vila Nova da Rainha, na véspera: com um minuto de absoluto silêncio. Foi bonito de ouvir, aquele silêncio.
Artigo publicado no Jornal do Centro (22 de dezembro de 2017)
No âmbito das comemorações dos “30 Anos de Gestão” * da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu tive o privilégio de assistir no passado dia 7 a uma das mais interessantes conferências de que me lembro. Para falar sobre empreendedorismo, quatro empresários e oradores de excelência (Francisco Banha, José Campos, Filipe Simões e Luís Amaral) e um moderador excecional, Paulo Ferreira. De forma mais ou menos direta, todos têm ligação a Viseu. Impressionou-me a apresentação de cada orador (conteúdo e forma). Impressionou-me a maestria com que o moderador conduziu a sessão. Impressionou-me a forma como os participantes (maioritariamente alunos) se mantiveram atentos e envolvidos durante duas horas e meia. Mas o que mais me impressionou foi o facto de Luis Amaral ter vindo propositadamente da Polónia na própria madrugada e regressado àquele país imediatamente após a conferência. Quando aceitou o convite pensava estar em Portugal no dia 7. Porém, por razões profissionais, foi obrigado a permanecer na Polónia até ao dia 6 e a ter de estar lá, também, no dia 8. Apenas disse isso à organização da conferência quando regressava ao aeroporto. Trata-se de um empresário notável. A sua empresa polaca fatura 5 mil milhões de euros por ano e emprega 20 mil pessoas. Criou e apoia causas sociais em África porque entende que é sua obrigação “devolver à sociedade uma parte do que a sociedade lhe deu”. É uma das pouquíssimas pessoas que já visitaram todos os países do mundo. Recusa normalmente mais de vinte convites para participar em conferências em universidades de grande prestígio. Por que razão fez cerca de 5 000 kms em menos de 20 horas, a expensas suas, para vir ao IPV? “Porque me tinha comprometido. É o valor da palavra”, disse. “Devolver à sociedade uma parte do que a sociedade me deu” e “o valor da palavra”. Duas lições que valem por muitas aulas! * "30 Anos de Gestão" é a designação dada a um conjunto de eventos com que, ao longo do ano letivo em curso, o Departamento de Gestão da ESTGV pretende assinalar a passagem dos 30 anos da licenciatura em Gestão de Empresas, os 20 anos da licenciatura em Contabilidade e os 10 anos do mestrado em Finanças.
Artigo publicado no Jornal do Centro (29 de setembro de 2017)
1. A 20 de janeiro deste ano, a propósito do processo eleitoral para a presidência do Instituto Politécnico de Viseu (IPV), escrevi aqui o seguinte, concretamente acerca do envolvimento dos docentes nesse processo: “(…) importa que todos sejamos capazes de honrar a instituição (e a nossa profissão). Não esqueçamos que todos somos colegas, membros da mesma organização, não adversários. Muito menos, inimigos. Que todos tenhamos memória. E bom senso. Acredito que assim será.”. Este processo terminou há dias, serenamente, com a eleição e tomada de posse do novo presidente do IPV. É tempo para um novo começo. Não o entender assim seria a melhor maneira de diminuir e enfraquecer a instituição. Não o fazer seria um sinal de pequenez e falta de sentido institucional. Isto é válido para todos e cada um dos mais diversos stakeholders envolvidos, individuais ou institucionais. Importa que todos o percebamos e sejamos capazes de agir em conformidade, internamente (docentes, alunos e funcionários) e externamente (entidades da cidade e da região, públicas e privadas). Os milhares de alunos e as centenas de empregadores que confiam no IPV merecem-no. Mais: devem exigi-lo! A cidade e a região também. Que todos tenhamos memória. E bom senso. 2. Como docente do Departamento de Gestão da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu não posso deixar de referir que se comemoram este ano, por esta ordem, os 30, 20 e 10 anos de existência das licenciaturas em Gestão de Empresas e Contabilidade e do mestrado em Finanças Empresariais. Daqui sairam largas centenas de diplomados, muitos dos quais atingiram posições de relevo em organizações nacionais e estrangeiras, a que se somam os diplomados nos outros cursos do Departamento. Mantenhamo-nos focados no que é realmente importante. Que todos tenhamos memória. E bom senso.
Artigo publicado no Jornal do Centro (13 de abril de 2017)
Foi apresentado no início deste mês o livro “Dicionário de Competências”, de Pedro Bettencourt da Câmara. Sendo um tema que me interessa (conforme meu artigo anterior), dei atenção a uma entrevista ao autor publicada n’ O Jornal Económico onde se pode ler que “recrutadores e empregadores valorizam cada vez mais as competências pessoais e sociais do candidato”. Atrevo-me a ir mais longe, dizendo que estas competências são cada vez mais importantes que os conhecimentos técnico-profissionais, pelo menos em algumas áreas do saber. O mundo muda cada vez mais depressa. O conhecimento também. O que se aprende fica desatualizado cada vez mais rapidamente. O “emprego para a vida” ou a “carreira linear” deixaram de existir. Um jovem de hoje virá, com muita probabilidade, a ocupar vários cargos ao longo da vida, fazendo várias coisas diferentes, que lhe exigem conhecimentos diferentes, em várias empresas e cidades diferentes. Talvez mesmo países e continentes. Isto requer, mais do que extraordinários conhecimentos técnico-profissionais, extraordinárias competências pessoais e sociais. No exercício da minha profissão dedico muito tempo ao acompanhamento de alunos nas chamadas horas de orientação tutorial. São períodos extra-aula, de acompanhamento individual ou em pequenos grupos, o que me permite ficar a conhecer melhor os alunos. Neste contacto direto e personalizado consigo captar características pessoais impossíveis de perceber em sala de aula, nomeadamente capacidades, competências e valores. É uma componente do meu trabalho que valorizo muito, sobretudo porque me ajuda a colocar diplomados no mercado de trabalho de forma mais certeira, tendo em conta aquilo que o empregador espera deles, para além dos conhecimentos técnicos inerentes à sua formação académica. |
Nota préviaIniciei este blogue em janeiro de 2016, na sequência da criação desta página pessoal. Categorias
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